terça-feira, 29 de maio de 2012

CTNBio aprova nova variedade de algodão transgênico

Relembrando que o algodão brasileiro é transgênico desde 2000...



Nova variedade facilita o manejo por ser resistente a insetos e tolerante a defensivos químicos.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou no dia 15 de maio uma nova variedade geneticamente modificada (GM) de algodão. O novo produto viabilizará o manejo conjunto de pragas e plantas daninhas.

A tecnologia aprovada agrega à semente de algodão dois importantes eventos para o combate a insetos da ordem das lepidópteras (lagartas). Além disso, também permitirá o controle de plantas daninhas por meio do uso seletivo de defensivos químicos à base de glufosinato de amônio e de glifosato.

Fonte: CTNBio

sexta-feira, 25 de maio de 2012

voltando ao agente laranja...


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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
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Milho tolerante ao herbicida 2,4-D a caminho da aprovação nos EUA

Número 586 - 25 de maio de 2012

Car@s Amig@s,

O 2,4-D é um antigo e potente herbicida (mata-mato), famoso por ter feito parte da composição do Agente Laranja, usado pelo exército norte-americano para desfolhar florestas na Guerra do Vietnã e responsável pelo nascimento de bebês com sérias malformações, bem como pelo desenvolvimento de câncer e outras doenças em milhares de civis vietnamitas e veteranos de guerra americanos.

E o "Enlist", um novo milho transgênico desenvolvido pela Dow Chemical e tolerante à aplicação do veneno, já alcançou a fase final do processo de aprovação pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês).

O produto é anunciado como a solução para as "super ervas daninhas", espécies de mato que não mais se curvam ao glifosato no sistema Roundup Ready. Para quem não se lembra, as sementes transgênicas RR, que representam a maior parte dos transgênicos plantados no mundo*, são tolerantes à aplicação do herbicida Roundup (a base de glifosato): o herbicida é pulverizado diretamente sobre as lavouras, eliminando todas as espécies de mato e deixando intactas apenas as plantas transgênicas.

Desde sempre os críticos a essa tecnologia alertaram que em muito pouco tempo as plantas espontâneas desenvolveriam resistência ao veneno – é o que acontece sempre que um mesmo produto é usado na mesma área, safra após safra. Com efeito, o problema das super invasoras já é notório nos EUA (e cada vez mais também no Brasil). Num primeiro momento, os agricultores tentam compensar a perda de eficácia do herbicida aumentando o número de aplicações e as dosagens. Logo depois, passam a utilizar os coquetéis de venenos para complementar o controle do mato, recorrendo a produtos mais antigos e mais tóxicos. O 2,4-D é um deles.

Recapitulando, então: visando diminuir o uso de agrotóxicos na agricultura (sic), desenvolvem-se plantas transgênicas tolerantes à aplicação de herbicida. Em pouco tempo, aumenta-se drasticamente o uso desse herbicida, que logo não surte mais o efeito esperado. Começa-se então a combinar esse veneno com outros mais potentes. Enfim, para solucionar de vez o problema, desenvolvem-se novas plantas transgênicas tolerantes aos venenos mais potentes. O que acontecerá depois? As plantas invasoras desenvolverão, obviamente, resistência aos novos – ou melhor, antigos – venenos, cujo uso naturalmente aumentará. O sistema de controle do mato precisará ser novamente turbinado e essa história não tem fim. Ou pior: poderá dar fim à própria agricultura!

É bom notar que o milho tolerante ao 2,4-D é apenas o primeiro de uma lista de similares. A Dow está também desenvolvendo algodão e soja tolerantes ao 2,4-D (a soja já está em teste no Brasil). Logo atrás, a Monsanto está desenvolvendo soja, algodão e milho tolerantes ao Dicamba, outro velho herbicida da mesma família do 2,4-D. A Syngenta e a DuPont estão também desenvolvendo lavouras tolerantes a outros herbicidas. Nos EUA, dos 20 novos transgênicos que aguardam autorização para plantio comercial, 13 foram desenvolvidos para resistir a um ou mais herbicidas.

Mas até nos EUA existe resistência. Mais de dois mil consumidores, ambientalistas e produtores de frutas e hortaliças, reunidos numa coalização chamada Save Our Crops (Salve Nossas Lavouras), estão se opondo à liberação do milho Enlist.

Uma das maiores preocupações por eles apresentada está relacionada à alta volatilidade do 2,4-D, que facilmente se dispersa pelo ar através do vento, podendo provocar danos a quilômetros de distância. O problema é tão sério que o uso do veneno é rigidamente restrito em algumas áreas e em determinadas épocas em alguns estados dos EUA. Afirmando não serem contra as inovações tecnológicas, os produtores de frutas e hortaliças preveem que a utilização maciça do herbicida em milhões de hectares de milho vá provocar grandes prejuízos.

Segundo matéria publicada pela Reuters, oficiais da Dow se dizem cientes do problema da volatilidade e dispersão do 2,4-D e alegam que desenvolveram uma nova versão do herbicida que, se utilizada "adequadamente", reduzirá a deriva em cerca de 90%. Os oponentes, entretanto, argumentam que o novo herbicida da Dow será tão caro que muitos agricultores aplicarão genéricos mais baratos no milho tolerante ao 2,4-D. Segundo a Reuters, "a Dow reconhece isto, mas diz que trabalhará para atrair os agricultores para sua marca."

Na hipótese de o Enlist ser mesmo autorizado, os agricultores demandam que alguma forma de fundo de indenização seja estabelecida para pagar as perdas das propriedades prejudicadas – ideia obviamente refutada pela Dow.

O USDA recebeu mais de 5 mil comentários na consulta pública sobre a aprovação do milho Enlist, e a Coalizão Save Our Crops recolheu mais de 267.500 assinaturas para uma petição solicitando que o governo dos EUA negue o pedido da Dow.

* Segundo dados divulgados por organização financiada pela própria indústria de transgênicos, as plantas tolerantes a herbicidas representam 59% dos transgênicos plantados no mundo. As plantas inseticidas somam 15%, e as 26% restantes combinam uma ou mais versões das duas características anteriores.

Com informações de:
- Dow Corn, Resistant to a Weed Killer, Runs Into Opposition – The New York Times, 25/04/2012.
- Analysis - Dow's new corn - "time bomb" or farmers' dream? – Reuters, 24/04/2012 (disponível em português na página do Instituto Carbono Brasil).

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Neste número:

1. Sai milho transgênico, entra o crioulo
2. Produtividade de soja convencional da Embrapa supera média nacional em RO
3. Uso de agrotóxicos pode alterar comportamento de gerações futuras
4. Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho
5. Syngenta mira receita de R$ 1 bi na África
6. Novo site traz subsídios para debates sobre agricultura na Rio+20

A alternativa agroecológica

Barragem subterrânea mantém solo úmido em períodos de seca

Dica de leitura

Socla lança artigo sobre agroecologia na Rio+20


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1. Sai milho transgênico, entra o crioulo

Milho Crioulo e não sementes transgênicas no programa troca-troca do Governo do estado do RS

O conselho do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper/RS) suspendeu, em votação no dia 24/04, a distribuição de sementes transgênicas de milho no Troca-Troca de sementes para a safra 2012-2013. O programa, desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR) do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, tem por objetivo facilitar a formação das lavouras dos pequenos produtores.

Através de ampla mobilização do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA) Núcleo Pelotas e do Fórum da Agricultura Familiar (FAF), através do seu GT de sementes, os conselheiros do Feaper derrubaram por nove votos a seis a distribuição de sementes transgênicas como política pública e a aprovação da compra e distribuição pelo Estado de sementes crioulas.

A coordenadora do CAPA núcleo Pelotas, Rita Surita considera esta decisão uma grande vitória, tanto para garantir a preservação e multiplicação das sementes de milho crioulo como pelo receio da contaminação através dos transgênicos. "Nossa preocupação é muito grande com a contaminação e com o desconhecimento por parte dos agricultores em relação ao tipo de sementes que estavam recebendo", completa.

Segundo o engenheiro agrônomo do CAPA e coordenador do GT de sementes do Fórum da Agricultura Familiar, Roni Bonow o movimento pela preservação e multiplicação das sementes de milho crioulo começou já em 2010, quando o conselho do Feaper inseriu as sementes de milho transgênico no programa troca-troca de sementes do estado. "Organizamos a jornada pela preservação do milho crioulo e realizamos na região sul um movimento para que os agricultores, prefeituras e sindicatos não pedissem as sementes transgênicas do troca-troca. Além disso, construímos em conjunto com a Unaic e Conab um projeto que doou 30 toneladas de milho crioulo para aproximadamente seis mil famílias de agricultores familiares, alcançando ótimo resultados de produtividade, grande diversidade de sementes plantadas e multiplicação das variedades crioulas e, esta semana tivemos esta dupla vitória, a retirada do milho OGM do programa e a inserção do milho crioulo e feijão para os agricultores familiares", explica Bonow.

Este ano, novamente o território Zona Sul, numa ação do Fórum Regional da Agricultura Familiar em parceira com a CONAB e Bionatur irá fornecer sementes orgânicas de hortaliças para 3.900 famílias, incentivando o plantio orgânico e valorizando as sementes produzidas pelos assentados da região. Sobre isso comenta Rita Surita: "nosso trabalho é mostrar a viabilidade de construir uma agricultura sustentável a partir do material genético e das sementes produzidas pelos próprios agricultores. Não queremos ser apenas contra os transgênicos, temos que mostrar que a agricultura tradicional tem muito a ensinar e que a humanidade tem se sustentado em diferentes épocas e convivido com drásticas mudanças praticando uma agricultura em parceria com a natureza".

Fonte: Em Pratos Limpos, 19/05/2012 (enviado por Rocheli Wachholz | CAPA – Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor).

2. Produtividade de soja convencional da Embrapa supera média nacional em RO

Os resultados do Programa Soja Livre em Rondônia foram apresentados na sexta-feira (18), durante reunião realizada no Campo Experimental da Embrapa Rondônia em Vilhena.

De acordo com os pesquisadores da Embrapa Rodrigo Brogin e Vicente Godinho, algumas variedades de soja livre (convencionais, ou não geneticamente modificadas) avaliadas nas Unidades Demonstrativas (UD's) do Programa, apresentaram produtividades médias próximas a 4.000 kg/ha, valor significativo e acima das médias observadas no país e no estado, de 2.665 kg/ha e 3.204 kg/ha, respectivamente, segundo o levantamento da produção de soja realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em maio de 2012.

"Com a divulgação de variedades de soja livre, o Programa foi uma oportunidade de a Embrapa mostrar que possui tecnologias que garantem produtividade e competitividade no estado", destaca o engenheiro agrônomo Frederico Botelho.

As maiores médias de produtividade foram observadas na UD instalada no município de Castanheiras, na Zona da Mata do Estado, com valores maiores que 5000 kg/ha. (...)

Fonte: Embrapa, 22/05/2012.

3. Uso de agrotóxicos pode alterar comportamento de gerações futuras

O contato com elementos ambientais tóxicos pode influir na resposta de futuras gerações ao estresse e causar desordens de conduta, segundo um estudo realizado nos Estados Unidos com ratos.

O estudo, realizado por pesquisadores das universidades de Washington e do Texas, comprovou que apenas uma exposição de fêmeas que esperavam filhotes a um fungicida utilizado em frutas e verduras, a vinclozolina, tinha consequências sobre a conduta da terceira geração de seus descendentes, apesar deles terem sido criados livres do agrotóxico.

Segundo os resultados do estudo, publicado nesta segunda-feira na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)", estes roedores se mostraram mais sensíveis às situações de estresse e experimentaram uma maior ansiedade do que os descendentes de ratos que não tiveram contato com o fungicida.

"Estamos atualmente na terceira geração humana desde o começo da revolução química, desde que os humanos ficaram expostos a estes tipos de toxinas", afirmou um dos autores da pesquisa, David Crews.

Até o momento, não se sabia que a resposta ao estresse pudesse depender dos fatores ambientais dos antepassados. Mas os mesmos pesquisadores já tinham demonstrado anteriormente que a vinclozolina podia afetar os genes.

Segundo o estudo, a socialização do indivíduo e os níveis de ansiedade com os quais ele reage perante ao estresse são condicionados não só pelos eventos de sua vida mas também pela herança ancestral epigenética (mudanças genéticas causadas por fatores externos ao organismo).

"Não há dúvida de que assistimos a um aumento real de problemas mentais como o autismo e o transtorno bipolar", declarou Crews, que opinou que isto não se deve apenas a vivermos num mundo mais frenético, mas também pelo efeito dos fatores ambientais.

Em seu estudo, os investigadores também observaram que os ratos cujos antepassados estiveram expostos à vinclozolina eram maiores e tinham níveis de testosterona mais altos.

Fonte: EcoDebate, 22/05/2012 (matéria da Agência EFE, no Yahoo Notícias).

4. Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho

O INCA (Instituto Nacional de Câncer) lançou recentemente o documento intitulado "Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho", que aborda a questão do câncer decorrente da exposição a agentes químicos presentes no ambiente e nos processos de trabalho. A publicação visa organizar, sistematizar e disponibilizar os diversos procedimentos para registro, acompanhamento e intervenção no âmbito da vigilância e assim subsidiar as ações realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O estudo destaca, entre outros, os compostos químicos cancerígenos presentes nos agrotóxicos. "A população rural constitui o grupo populacional mais diretamente exposto, muitas vezes desde a infância, porém toda a população pode ter contato com agrotóxicos, seja pela ocupação, pela alimentação ou pelo ambiente", observa o documento.

O trabalho cita diversas pesquisas que associam o desenvolvimento de câncer a diferentes ingredientes ativos de agrotóxicos – entre eles o herbicida glifosato, um dos venenos mais utilizados no país e que teve seu consumo multiplicado a partir da introdução da soja transgênica: "estudos relacionam [o glifosato] a ocorrência de linfoma não Hodgkin (Hardell et al., 2002; De Ross et al., 2003; Cox, 2004) e mieloma múltiplo (De Ross et al., 2005)."

O documento alerta que "O grande número de estudos que apontam o potencial cancerígeno dos agrotóxicos e a ocorrência de outros agravos à saúde humana relacionados a esses produtos colocam o uso extensivo desses químicos no centro das preocupações da Saúde Pública. A complexidade das medidas de prevenção que urgem ser discutidas e adotadas no país resultam de sua utilização de forma descontrolada, a associação entre diversos tipos e marcas de agrotóxicos e a naturalização de sua manipulação."

A íntegra do documento está disponível em: http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/diretrizes_cancer_ocupa.pdf

5. Syngenta mira receita de R$ 1 bi na África

A Syngenta, gigante global de defensivos [agrotóxicos] e biotecnologia, deve investir cerca de US$ 500 milhões na África nos próximos dez anos, afirmou o CEO da empresa, Mike Mack. O executivo estima que o investimento gere um receita anual de US$ 1 bilhão.

Fonte: Valor Econômico, 21/05/2012.

6. Novo site traz subsídios para debates sobre agricultura na Rio+20

A Foundation on Future Farming e a Biovision lançaram um novo site voltado para os debates sobre agricultura e a questão fundiária que ocorrerão na Rio+20 – www.globalagriculture.org. A página, em inglês, disponibiliza os resultados do IAASTD, trazendo dados atualizados, outras referências sobre o tema e mais dicas de leitura, além dos documentos originais da avaliação sobre o estado da pesquisa agrícola no mundo.

Fonte: Em Pratos Limpos, 12/05/2012.

A alternativa agroecológica

Barragem subterrânea mantém solo úmido em períodos de seca

Uma solução simples pode ajudar os agricultores do semiárido a segurar a umidade das águas do período chuvoso: a barragem subterrânea, uma tecnologia de construção rápida e barata, que mantém a umidade do solo favorecendo o plantio durante, praticamente, o ano todo.

O programa Globo Rural foi à região do Seridó, no sudoeste do Rio Grande do Norte, mostrar experiências apoiadas pela Emater em projeto que conta com a parceria da prefeitura, do governo estadual e do governo federal.

Seu Lourenço, agricultor contemplado com uma barragem, hoje mantém uma propriedade diversificada, de onde ele e todos os filhos tiram seu sustento (numa escala que atende sete famílias). "Só de banana ele tira uma tonelada por mês. Há também mamão, coco-da-baía, pimenta, caju, amendoim, tomate, pinha, feijão, goiaba, cebolinha e coentro. Só de hortaliças em geral são mais de 20 canteiros", mostra a reportagem.

Além da barragem subterrânea, seu Louro adotou tecnologias complementares para a retenção da água na propriedade, como a construção de renques: muros de pedra no pé dos morros, que evitam o carreamento do solo superficial para o leito dos rios e também ajudam a manter a umidade no terreno.

A maior parte da produção da família é vendida para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e para o Compra Direta, programa estadual que também atende às escolas da região. A terra da família, que antes arrendava para plantar, foi adquirida através do crédito fundiário. Graças à fartura garantida pelas técnicas de convivência com o semiárido, seu Louro está em dia com as prestações.

Experiências desse tipo mostram a capacidade que têm os agricultores familiares para produzir alimentos e conservar os recursos naturais, garantindo sua sobrevivência e reprodução e ao mesmo tempo abastecendo a população com produtos de qualidade. Basta um mínimo de apoio com políticas públicas adequadas.

Veja a reportagem do Globo Rural, veiculada em 11/03/2012.

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sábado, 19 de maio de 2012

Ligação entre Parkinson e agrotóxicos é oficialmente reconhecida na França

18 de maio de 2012



Por Angela Bolis
Do Le Monde*


A tomada de consciência dos efeitos dos agrotóxicos sobre a saúde dos agricultores - em que reinava até agora a lei do silêncio - está apenas começando a emergir e a dar os seus frutos.
Em fevereiro, a vitória de um produtor de grãos, Paul François, que havia movido um processo contra a gigante norte-americana Monsanto, abriu um precedente na França. A empresa foi julgada responsável pela intoxicação do produtor por meio da inalação do agrotóxico Lasso – retirado do mercado em 2007, na França - quando estava limpando o tanque de seu pulverizador de herbicidas. Os riscos do uso deste herbicida já eram conhecidos há mais de 20 anos.

Alguns dias mais tarde, já eram dezenas de produtores a se manifestar no Salão da Agricultura, em frente à estante da União das Indústrias da Proteção das Plantas (UIPP). Suas reivindicações: a classificação de doenças relacionadas ao uso de pesticidas em doenças ocupacionais e a retirada de produtos perigosos.

No dia 30 de abril, foi outra decisão, aquela da Comissão de Indenização das Vítimas de Infração (Civi) de Epinal, que veio trazer água para o moinho: naquele dia, o Estado foi condenado a indenizar um produtor de grãos de Meurthe-et-Moselle que sofre de uma síndrome mieloproliferativa. Inicialmente reconhecida como doença profissional, a patologia foi então associada pela Civi ao uso de produtos que continham especialmente benzeno.

Um decreto “ansiosamente aguardado”

Nesta paisagem que lentamente começa a evoluir, o decreto sobre o reconhecimento do Mal de Parkinson foi, portanto, “ansiosamente aguardado”, observa Guillaume Petit. O agricultor pertence à Associação de Fitovítimas, criada em março de 2011, e com a qual Paul François foi um dos primeiros a quebrar o silêncio, atacando a Monsanto. Ele esperou quatro anos para ter sua doença reconhecida como doença ocupacional. “Quantos veem seu pedido negado? Quantos inclusive chegam a abandoná-lo devido às dificuldades?”, perguntou após a criação desta Associação.

A inclusão do Mal de Parkinson nas listas de doenças ocupacionais do sistema agrícola facilitará, portanto, os esforços para os agricultores em quem esta doença será diagnosticada em menos de um ano após a utilização dos pesticidas - o texto não especifica quais. “É um reconhecimento oficial que já é importante em termos simbólicos”, observa Guillaume Petit. “Mas também é um caminho para o agricultor ser apoiado financeiramente, no caso de incapacidade de continuar trabalhando”.

Em 10 anos, cinco doenças ligadas aos pesticidas são reconhecidas

Até agora, de acordo com Yves Cosset, médico do trabalho e assistente nacional de saúde do Mutual de Saúde dos Agricultores (MSA), apenas 20 casos do Mal de Parkinson foram relatados aos comitês de reconhecimento de doenças ocupacionais em uma década. Dez foram aceitos e outros 10 rejeitados. No mesmo período, apenas quatro ou cinco casos da doença foram oficialmente reconhecidos como causados por pesticidas.

No total, são 4.900 doenças que são reconhecidas a cada ano como doenças profissionais entre os agricultores. Mais de 90% são TMS (distúrbios osteomusculares); os demais casos estão relacionados principalmente aos animais e ao pó de madeira ou amianto, de acordo com Yves Cosset.

Nas listas de doenças ocupacionais do sistema agrícola, há, por exemplo, a doença de Lyme – causada por carrapatos –, tétano ou hepatite. Mas também algumas doenças relacionadas aos produtos fitossanitários. É particularmente citado, desde 1955, o arsênico, responsável por vasta gama de doenças – irritação, intoxicação ou câncer. Ou ainda o benzeno, classificado como cancerígeno, e o pentaclorofenol (PCP), proibido como pesticida desde 2003.

Mas, lembra Yves Cosset, “estas listas estão evoluindo com o conhecimento da ciência. No entanto, a maioria das doenças relacionadas aos pesticidas vai ocorrer em intervalos diferentes, dez, vinte, até trinta anos após o início da sua utilização. Na medicina do trabalho, começou-se a falar do amianto na década de 1960 e este produto só foi mencionado nestas listas em 1998 para os cânceres. Por conseguinte, não é de excluir que outras doenças possam surgir e sejam reconhecidas em anos futuros...”.
* A tradução do Cepat

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Monsanto prohibido en Polonia, Bélgica, Gran Bretaña, Bulgaria, Francia, Alemania, Irlanda y Eslovaquia | Vamos a Cambiar el Mundo

Monsanto prohibido en Polonia, Bélgica, Gran Bretaña, Bulgaria, Francia, Alemania, Irlanda y Eslovaquia

Burkina Faso abandona o algodão transgênico

Burkina Faso abandona o algodão transgênico | 


As associações algodoeiras do país retornaram à produção do algodão convencional em 2012
Claire Fages
RFI
Burkina Faso foi a “ponta de lança” dos transgênicos no oeste do continente africano. Entretanto, muito decepcionados pelos rendimentos e pela qualidade do algodão geneticamente modificado, as associações algodoeiras do país retornaram à produção do algodão convencional em 2012.
O algodão transgênico não manteve suas promessas em Burkina Faso. Graças à sua resistência aos insetos, ele deveria dar rendimentos 30% superiores em relação ao algodão tradicional. Mas tal crença não vigorou. Claro que o clima não era favorável. Porém, não explica tudo, longe disso.
As razões das perdas estão inerentes ao próprio algodão geneticamente modificado. Mais sofisticado, com as cápsulas maiores, o algodão transgênico não sofre nenhum dano, explica Gérald Estur, consultor especializado. A semente exige uma dose precisa de fertilizantes específicos. Mas ela não recebeu cuidados tão precisos, dado o hábito dos produtores de algodão de desviar uma parte de insumos subsidiados para outras culturas, em particular , as de alimentos. Mas a pior surpresa mesmo é a baixa qualidade da fibra.
A semente vendida pela Monsanto à Burkina Faso foi sem dúvida fabricada às pressas. Cruzada com a variedade estadunidense, ela dá um algodão mais branco que a cor creme, comum da espécie do oeste africano. Porém a fibra é consideravelmente mais curta. A fibra é uma fiação de algodão em toda a sua qualidade. O algodão de Burkina Faso, com a variedade “média-alta”, como todo o algodão do oeste africano, se encontra numa classificação inferior do algodão paquistanês. O uso dos transgênicos não só desorientou os descascadores, mas também o comércio, com um padrão de preços 10% inferiores e uma considerável falta de ganhos para as associações algodoeiras do país. É por isso que esse ano elas recuaram. O plantio começará em breve e elas distribuirão praticamente 100% das sementes tradicionais, contra 30% no ano anterior.
As sementes transgênicas, que cobriam 70% da superfície do país no ano passado serão evitadas até que a Monsanto descubra uma solução para eliminar o caráter negativo pela qualidade da fibra. Isso também para o desgosto dos algodoeiros que estavam habituados a trabalhos menos sofridos e menos perigosos para a saúde, porque o algodão transgênico demandaria muito menos de tratamentos fito-sanitários que o algodão convencional.

Algodão - maio 99

Algodão - maio 99

sábado, 28 de abril de 2012

letalidade do glifosato para vertebrados

De: AS-PTA <boletim@aspta.org.br>
Data: 27 de abril de 2012 12:47

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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,

LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS

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Número 582 - 27 de abril de 2012

Mais evidências da letalidade do glifosato para vertebrados

Car@s Amig@s,

O Departamento de Herpetologia da Sociedade Científica Arazandi, no País Basco, analisou os efeitos do herbicida glifosato (ingrediente ativo do Roundup, da Monsanto, usado nas lavouras transgênicas Roudup Ready - RR), sobre espécies de anfíbios que ocorrem na Europeus. Os resultados não deixam margem para dúvidas: doses menores do que as recomendadas pelos fabricantes produzem uma mortalidade absoluta para as 10 espécies estudadas.

O glifosato é um dos herbicidas mais empregados no mundo e a Organização Mundial de Saúde o classifica como levemente tóxico para humanos. No Brasil, várias das formulações registradas a base de glifosato têm classificação toxicológica IV (Pouco Tóxico), e a maioria delas tem classificação ambiental III, numa escala de I a IV em que I representa o maior perigo para o meio ambiente e IV o menor. Existe, entretanto, uma crescente controvérsia a respeito da segurança do produto tanto para a saúde como para o meio ambiente.

Em 2010, a revista Chemical Research in Toxicology [1], da Sociedade Americana de Química (ACS, na sigla em inglês), publicou a pesquisa de Andrés Carrasco, chefe do Laboratório de Embriologia Molecular da Universidade de Buenos Aires (UBA), intitulada "Herbicidas a base de glifosato produzem efeitos teratogênicos em vertebrados interferindo no metabolismo do ácido retinoico". Durante 30 meses os pesquisadores estudaram o efeito do glifosato em embriões de anfíbios e os resultados demonstraram deformações produzidas pelo veneno em concentrações até 5 mil vezes menores do que as do produto comercial (500 vezes menores do que as utilizadas na agricultura).

No novo estudo realizado ao longo de três anos no País Basco os resultados ecotoxicológicos mostram que as doses recomendadas por distintos fabricantes superam amplamente as concentrações toleradas pelas espécies analisadas.

Os estudos mostraram também que em doses menores que as letais, que não produzem mortalidade no curto prazo, no longo prazo podem também afetar a biologia e o comportamento dos anfíbios, bem como seu crescimento, estado de saúde ou capacidade de escapar de predadores.

Em sua nota à imprensa [2], a Sociedade Científica Arazandi afirma que "não resta a menor dúvida de que o glifosato afeta negativamente os ecossistemas naturais, sobretudo os meios aquáticos, onde tende a acumular-se. Nestes ambientes seu efeito é multiplicado, já que o produto afeta toda a cadeia trófica, tanto nos níveis basais, eliminando o fitoplâncton que nutre muitos organismos, como animais maiores, como peixes e anfíbios".

Outro estudo recente, publicado este mês na revista científica Ecological Applications [3], também aponta que o glifosato é capaz de provocar deformidades em anfíbios.

Rick Relyea, professor de ciências biológicas e diretor do laboratório de ecologia da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, que há duas décadas estuda ecologia e ecotoxicologia, conduziu uma vasta pesquisa sobre a toxicidade do Roundup a anfíbios (alguns de seus estudos foram criticados pela Monsanto, e as respostas do pesquisador estão publicadas em sua página, no site da Universidade [4]). Em seu último estudo, Relyea colocou grandes tanques de água ao ar livre contendo muitos dos componentes de áreas úmidas naturais. Alguns tanques continham predadores presos em gaiolas, que produzem substâncias químicas que naturalmente induzem mudanças na morfologia dos girinos (como caudas maiores para melhor escapar dos predadores). Depois de colocar os girinos em cada tanque, o pesquisador os expôs a uma gama de concentrações de Roundup.

Os dados mostraram que exposição a doses sub-letais do herbicida causou o crescimento anormal das caudas dos girinos. "Não foi uma surpresa ver que o cheiro de predadores na água induziu o aumento do tamanho das caudas dos girinos", declarou Relyea. "Isso é uma resposta adaptativa normal. O que nos chocou foi que o Roundup induziu as mesmas mudanças. Mais ainda, a combinação de predadores e Roundup levou o tamanho das caudas a ficar duas vezes maior".

Segundo Relyea, este é o primeiro estudo a mostrar que um agrotóxico é capaz de induzir mudanças morfológicas em um vertebrado animal.

"Predadores provocam mudanças no formato das caudas de girinos ao alterar seus hormônios relacionados ao stress", disse Relyea. "As mesmas mudanças de formato verificadas em função da exposição ao Roundup sugerem que o herbicida pode interferir nos hormônios dos girinos e, potencialmente, de muitos outros animais."

Segundo Relyea, "A descoberta é importante porque anfíbios servem não somente como um barômetro da saúde dos ecossistemas, mas também como um indicador dos perigos potenciais para outras espécies na cadeia alimentar, incluindo os humanos".

No Brasil o uso do glifosato aumentou exponencialmente após a introdução das lavouras transgênicas. Segundo dados divulgados pela Anvisa, o uso do glifosato no Brasil entre 2003 e 2009 saltou de 57,6 mil para 300 mil toneladas.

O produto também está entre os 14 ingredientes ativos que a Anvisa colocou em reavaliação toxicológica em 2008. Nesses processos de reavaliação, caso a análise das novas evidências científicas confirmem a insegurança do produto, os órgãos registrantes podem determinar a alteração da classe toxicológica, impor restrições de uso ou de comercialização, ou até mesmo cancelar o registro. Mas a reavaliação do glifosato até hoje não foi concluída.

[1] http://pubs.acs.org/doi/abs/10.1021/tx1001749

[2] http://bit.ly/Ih3uXi

[3] http://www.esajournals.org/doi/abs/10.1890/11-0189.1

[4] http://www.pitt.edu/~relyea/Site/Roundup.html

Com informações de:

- "El glifosato: letal para los anfibios del País Vasco" – Baserri Bizia, 01/02/2012.

- Roundup causes deformities in a vertebrate – GMWatch, 04/04/2012.

- New Study Is First to Show That Pesticides Can Induce Morphological Changes in Vertebrate Animals, Says Pitt Researcher – University of Pittsburgh News, 30/03/2012.

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Neste número:

1. Agrotóxicos: um mercado bilionário e cada vez mais concentrado
2. Governo do RS exclui transgênicos de programa de sementes
3. Pragas secundárias atacam milho Bt em Goiás
4. Dossiê sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde no Brasil será lançado no Rio
5. Agricultores do agreste da Paraíba recusam as sementes distribuídas pelo governo

A alternativa agroecológica
 
Testado em GO, feijão agroecológico é livre de qualquer produto químico

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1. Agrotóxicos: um mercado bilionário e cada vez mais concentrado
 
Seminário realizado na Anvisa mostra o processo de concentração da produção e comercialização de insumos agrícolas. Pesquisador alerta para risco à soberania nacional.
 
O mercado mundial de agrotóxicos movimentou US$ 51,2 bilhões em 2010. E o brasileiro US$ 7,3 bilhões. As seis maiores empresas – Basf, Bayer, Dow, Dupont, Monsanto e Syngenta – controlam hoje 66% do mercado mundial. E, no Brasil, as dez maiores empresas foram responsáveis por 75% da venda nacional de agrotóxicos na última safra. As gigantes do setor estão comprando as empresas menores, tanto de agrotóxicos, quanto de sementes, formando monopólios e oligopólios. Os dados foram apresentados no 2º Seminário Mercado de Agrotóxicos e Regulação, realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no dia 11 de abril, com a palestra do professor da Universidade Federal do Paraná, Victor Pelaez.
 
Segundo o pesquisador, que também é coordenador do Observatório da Indústria de Agrotóxicos, a tendência é de que as grandes empresas continuem adquirindo as pequenas. "Existe um ciclo vicioso porque para baixar os preços é preciso produzir em escala maior, e, portanto, as menores empresas não têm condição de se manterem no mercado com os preços menores. Por isto, cada vez o mercado se concentra mais", explica. (...)
 
O professor mostrou durante a apresentação que quase todas as grandes corporações do ramo de agrotóxicos adquiriram empresas de sementes nos últimos anos. E aquelas que não participam desse esquema acabam ficando de fora do mercado. "Ao vender para o agricultor, a empresa faz o pacote com a semente e o agrotóxico junto, com uma série de facilidades. Isto dá uma competitividade fantástica às empresas que conseguem ter esse portfólio de produtos. É o que chamamos de economia de escopo. Elas podem dar um desconto grande num produto e ganhar dinheiro em outro produto, e com isso vai faltando espaço e recursos para as empresas que não tiverem essa estratégia", detalha.
 
Dificuldade de informações
 
(...) De acordo com Pelaez, os dados informados pelo setor regulado à Anvisa, ao Ministério da Agricultura e ao Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), responsáveis pela fiscalização dos agrotóxicos, são divergentes. "As empresas não têm um controle muito rígido no atendimento dessa demanda. E, por outro lado, é uma demanda que exige muita atenção e cuidado na leitura do manual de preenchimento dos formulários online e também um esforço e trabalho criterioso no preenchimento das informações. O que percebemos em grande parte é uma desatenção e uma falta de cuidado nesse sentido. E os sistemas têm alguns critérios diferentes que fazem com que a empresa não consiga aportar exatamente os mesmos dados", avalia o professor. (...)
 
Controle
 
Além das dificuldades no acesso às informações sobre o mercado de agrotóxicos, outro problema é a falta de estrutura dos órgãos de fiscalização brasileiros. Enquanto nos Estados Unidos a Agência de Proteção Ambiental (EPA) tem 850 técnicos, a Anvisa tem 26 e, somados os profissionais do Ibama e do Ministério da Agricultura, não chega a 50 o número de técnicos responsáveis por essa fiscalização. "É absurda a diferença considerando que nós temos um mercado que é 10% maior do que o mercado norte-americano", comenta Victor.
 
Outra diferença do Brasil em relação aos Estados Unidos são os valores pagos pelo registro e reavaliação dos agrotóxicos. No Brasil, o custo para registro varia entre US$ 50 e US$ 1 mil. Já nos Estados Unidos, esse valor chega a custar US$ 630 mil. A reavaliação e a manutenção anual não são cobradas no Brasil e nos Estados Unidos as empresas precisam pagar US$ 150 mil em caso de reavaliação e de US$ 100 a US$ 425 para manutenção anual.
 
Segundo Pelaez, são esses montantes que arcam com a estrutura de funcionamento da fiscalização nos Estados Unidos. "Nos Estados Unidos, conseguiram fazer com que a indústria arque com esse valor que gira em torno de US$ 14 milhões. Estes recursos são destinados para financiar programas de treinamento de agricultores e uma política mais consistente de redução do risco da utilização dos agrotóxicos. Para ter mais celeridade, maior segurança e melhor qualidade no processo, alguém tem que pagar por isso, e aqui no Brasil é a sociedade que paga. As empresas são, inclusive, isentas de IPI e têm isenção de até 60% de ICMS", aponta. (...)
 
Agricultores à mercê das empresas
 
Os dados sobre o mercado mundial de agrotóxicos apresentados no seminário revelam que esse comércio e o modelo de agricultura que o sustenta não mostram sinais de enfraquecimento. De 2000 a 2010, este mercado cresceu 190% no Brasil e 93% no mundo. Durante a última safra (segundo semestre de 2010 e primeiro de 2011), foram produzidos 833 mil toneladas de produtos em 96 empresas analisadas, do total de 130 cadastradas no país. A América Latina detém 22% do mercado mundial de agrotóxicos, sendo que o Brasil, sozinho, é responsável por uma fatia de 19%.
 
Para Pelaez, é fundamental discutir qual modelo de agricultura o país quer manter. "Esse modelo de agricultura não esteve aí sempre, não é a ordem natural das coisas como tentam colocar como sendo inevitável e irreversível. Pelo contrário, são escolhas econômicas e políticas que vão acontecendo ao longo do tempo. E lógico, depois de algumas décadas, passa a ser o modelo dominante", diz.
 
O professor caracteriza o modelo hegemônico na agricultura mundial como altamente excludente e dependente de subsídios do poder público. "Tentativas de implantação desse modelo agrícola na África, em alguns países que não tinham recursos financeiros para subsidiar, fracassaram. A indústria de sementes, agrotóxicos e fertilizantes na verdade é subsidiada pelas populações em geral, dado o custo elevadíssimo", explica.
 
Embora o quadro de concentração das empresas de agrotóxicos e sementes tenda a se intensificar na avaliação do pesquisador, as contradições dessa estratégia e os prejuízos para os próprios agricultores e para o país também estão se tornando cada vez mais evidentes. Pelaez dá o exemplo da empresa Monsanto, que aumentou recentemente em cinco vezes o preço da semente resistente ao agrotóxico glifosato, ambos – agrotóxico e semente – produzidos pela empresa. "Essa era a crônica da morte anunciada. Essa combinação que a Monsanto faz do glifosato com a semente resistente ao glifosato possibilita esse aumento de preços fantástico. Agricultores gaúchos, que sempre foram extremamente favoráveis à difusão da soja transgênica resistente ao glifosato, entraram com uma liminar contra o pagamento desses royalties. Isto é surpreendente porque eles sempre foram os grandes aliados desse modelo e agora estão sendo vítimas do que sempre defenderam. Isto mostra como o risco está presente", alerta.
 
Leia a íntegra da matéria na página da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio-Fiocruz, 18/04/2012.
 
Leia mais sobre o assunto na página da Anvisa.
 
2. Governo do RS exclui transgênicos de programa de sementes

Segundo informações da Fetraf-Sul, em uma votação na tarde desta terça-feira, 24, ficou aprovado que as sementes transgênicas não farão [mais] parte do programa Troca-Troca de sementes no RS. A coordenadora da Fetraf-Sul/CUT no estado, Cleonice Back, participou da votação no Conselho do Feaper (Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais) e afirmou que esta também é uma vontade da Federação.
 
Cleonice defende a produção convencional, agroecológica, diferenciada e com todo sistema de biodiversidade. "Um grande avanço foi a semente crioula incluída no programa, estamos satisfeitos", concluiu.
 
Informações da FETRAF-SUL, 24/04/2012.
 
3. Pragas secundárias atacam milho Bt em Goiás
 
Inseto infesta parte das lavouras de milho de Jataí, em Goiás. Pulgão ataca na época da floração e provoca queda na produtividade. Controle químico custa uma média de R$ 10 a R$ 15 por hectare.

A área plantada com milho safrinha foi de 160 mil hectares no município de Jataí, em Goiás. Houve aumento de 14% em comparação com o ano passado. Várias lavouras da região estão no período de floração.

Por causa do clima úmido os produtores enfrentam o ataque do pulgão, praga comum na cultura. O inseto pequeno pode provocar grandes estragos na plantação.

O ataque do pulgão pode prejudicar a produtividade das lavouras em Jataí. Segundo o IBGE, a produtividade média esperada para esse ano é de 95 sacas por hectare. Mas se não houver o controle da praga, o resultado pode cair em até 20%.
 
Segundo o agrônomo Luiz Batista, 90% das lavouras foram atingidas pela praga. "Se não houver controle químico, a tendência é essa fumagina tomar conta das folhas, o que diminui a área folhear e fazendo com que a planta produza menos", diz.
 
A maioria dos agricultores do município planta milho transgênico, resistente somente a lagartas. O controle químico custa uma média de R$ 10 a R$ 15 por hectare, um custo a mais para o produtor.
 
Fonte: G1, 25/04/2012 (confira o vídeo da reportagem em que o agrônomo entrevistado se enrola um tanto para tentar convencer que o fenômeno não tem relação com o fato de o milho ser transgênico)
 
4. Dossiê sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde no Brasil será lançado no Rio

População não conhece os riscos dos agrotóxicos
 
Mesmo sob a crescente pressão da sociedade civil, quem vive na área rural do Brasil ainda é constantemente impactado por agrotóxicos pulverizados nas lavouras de monocultura do País.
 
Muitas vezes, estes produtos são aplicados a menos de dez metros de escolas e residências. O pior: em casas de pequenos agricultores, que não fazem ideia dos riscos, acabam se tornando embalagem para acondicionar até comida. A situação é descrita no "Dossiê sobre o impacto dos agrotóxicos na saúde no Brasil" feito pelos principais pesquisadores de saúde do País e que será apresentado no Congresso Mundial de Nutrição Rio 2012, na próxima sexta-feira (27), em Brasília (sic) [no Rio de Janeiro].
 
Segundo um dos coordenadores do dossiê, o médico e pesquisador Fernando Carneiro, a ideia é fazer frente à bancada ruralista no Congresso Nacional, que aumentou o lobby para liberação do uso de novas substâncias – muitas proibidas nos Estados Unidos e na Europa – pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Os ruralistas querem uma agência única para agilizar a aprovação de novos agrotóxicos. Isso pode tirar o poder da Anvisa. Os mecanismos de controle do País já são falhos."
 
O documento reúne os dados mais recentes sobre o assunto, impulsionado pelo fato de o Brasil ter se tornado, nos últimos três anos, o maior mercado consumidor de agrotóxicos no mundo. O dossiê é encabeçado pela Associação Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal do Ceará (UFCE) e a Fiocruz do Rio de Janeiro.
 
Um dos estudos que será apresentado é do médico e pesquisador da Universidade Federal do Mato Grosso Vanderlei Pignatti, ainda inédito. Ele analisou o sangue e a urina de professores das áreas urbanas e rurais das cidades de Lucas do Rio Verde e Campo Verde, no Mato Grosso do Sul. Foram colhidas amostras de 79 professores, 35 em duas escolas da área rural e 39 em duas na área urbana. Havia sinais de agrotóxicos em 70 amostras. Entre os professores da Zona Rural, o nível de resíduos encontrado foi o dobro da zona urbana.
 
Segundo Pignatti, trata-se de um alerta. "Muitos têm intoxicação crônica, que acontece por conta de exposição contínua aos agrotóxicos. Isso pode desencadear várias doenças."
 
Ainda de acordo com Pignatti, muitas escolas nas áreas rurais ficam a menos de dez metros de plantações de soja, milho ou algodão, o que significa um risco grave à saúde de alunos e professores. Há uma lei, de 2008, que obriga uma distância de pelo menos 500 metros para a pulverização de agrotóxicos, mas ela não é cumprida em muitos municípios. De acordo com o professor, há 71 cidades do País nessa situação.
 
Em outra pesquisa, Pignatti detectou agrotóxicos no leite materno. Foram colhidas amostras de 62 mães da área rural de Lucas do Rio Verde e em todas foi encontrado DDT, substância proibida no Brasil desde 1985. Como todas as mães nasceram antes do período, foram contaminadas e até hoje possuem a substância no corpo. Além disso, em 76% foi encontrado o agrotóxico Endosulfan, proibido em toda a Europa, que só será retirado Brasil em 2013.
 
As instituições responsáveis pelo dossiê fazem parte da Campanha Permanente contra Agrotóxicos e pela Vida, criada há pouco mais de um ano. O objetivo é mostrar que agrotóxicos são uma escolha não relacionada apenas à economia. Os insumos químicos aumentam a produtividade. Mas, quando se avalia a sustentabilidade, se constata que há desgaste de solos, danos à saúde e dependência econômica dos agricultores.
 
Não faltam histórias como a do agricultor Nilfo Wandstheer. Morador de Lucas do Rio Verde, ele foi diagnosticado com intoxicação crônica, e sua mulher teve um aborto espontâneo. Há seis anos, Nilfo e a esposa estavam na cidade quando pulverizou agrotóxicos em toda a cidade, com um avião, num caso que ficou famoso à época. "Fugimos das lavouras de fumo no Sul, onde eu já tinha me intoxicado, mas aqui as plantações de algodão e soja também têm muitos agrotóxicos. As pessoas passam mal e não sabem a causa."
 
O principal desafio dos médicos é provar os danos causados pelos agrotóxicos, já que os sistemas nacionais têm índices imensos de subnotificação, segundo a pesquisadora da Fiocruz e coordenadora do Sistema Nacional de Intoxicação (Sinitox), Rosany Bochbochner. "Os médicos não são capacitados para diagnosticar as intoxicações. Isso cria brechas que as empresas usam para desqualificar os dados."
 
A pesquisadora da Universidade Federal de Ceará Raquel Rigotto estuda agricultores na região do Baixo Jaguaribe (PE), onde a fruticultura irrigada cresceu com a chegada de transnacionais. Ela pesquisou 545 agricultores e concluiu que 30,7% deles apresentavam sintomas de intoxicação no momento da entrevista. "O número de intoxicações é altíssimo, mas o SUS (Serviço Único de Saúde) não está pronto para identificar."
 
Fonte: O Globo | Razão Social, 24/04/2012 – via Em Pratos Limpos.
 
5. Agricultores do agreste da Paraíba recusam as sementes distribuídas pelo governo
 
Produtores dizem que sementes não são próprias para o clima da região. Grãos apresentam produção bem abaixo do esperado.
 
Os agricultores do agreste da Paraíba recusaram as sementes distribuídas pelos programas do governo. Eles dizem que elas não são próprias para o clima da região.
 
O banco de sementes da cidade de Solânea, no brejo da Paraíba, tem milho, feijão e fava, variedades plantadas há décadas na região, o que fez com que os grãos doados pelo governo fossem recusados.
 
Segundo os agricultores, as sementes da maioria dos programas federais e estaduais são de outras regiões do país e não se adaptam ao clima do semi-árido, apresentando uma produção bem abaixo do esperado. O agricultor Antônio Albino aguarda a chegada da chuva para começar a plantar e só vai usar as sementes produzidas por ele.
 
O Projeto de Armazenagem dos Grãos, que existe há quase 40 anos em algumas regiões da Paraíba, é chamado de Sementes da Paixão por seu valor. O agricultor Joaquim Santana considera importante o apoio dos governos desde que conheçam e trabalhem de acordo com a realidade de cada região.
 
A Secretaria de Agricultura da Paraíba informou que elabora um projeto para cultivar as sementes na própria região onde serão plantadas. Deve ser feito um acordo com donos de áreas de cana-de-açúcar para alugar as terras no período de entressafra e produzir as sementes.
 
Fonte: G1, 25/04/2012 (confira o vídeo da reportagem).
 
A alternativa agroecológica
 
Testado em GO, feijão agroecológico é livre de qualquer produto químico

Para produtor, uma das vantagens é não ter de lidar com veneno.

Alimento é plantado em volta de árvores e espécies nativas do cerrado.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Arroz e Feijão está testando uma nova variedade do feijão, chamado de agroecológico. Os testes acontecem em uma propriedade de Pirenópolis, a 127 quilômetros de Goiânia. "Ele é produzido absolutamente sem nenhum produto químico e desenhado de acordo com as normas da natureza. As plantas conseguem conviver com insetos e com pragas e fungos sem causar danos econômicos", explica o pesquisador Agostinho Didonetti.
 
Plantado em uma área experimental, no meio de uma roça de milho e em volta de árvores frutíferas e espécies nativas do cerrado, o alimento parece estar em um local estranho, mas é neste ambiente em que se cultiva o feijão no novo sistema.
 
Para se conseguir um ambiente equilibrado, é preciso ter diversificação, ou seja, várias espécies diferentes de plantas. A escolha dessas espécies deve ser feita de modo a se ter plantas que convivam em harmonia.
 
Produção
 
Quando o pequeno produtor decide plantar o feijão agroecológico, a primeira preocupação deve ser com o chamado período de transição, quando se deixa de usar produtos químicos. É um período que demora até que o ambiente se equilibre.
 
Outra preocupação é com o solo. "É preciso que ele esteja equilibrado, tanto do ponto de vista mineral quanto do ponto de vista da microbiologia, de sua parte viva. Em geral, quando você utiliza somente um cultivo, normalmente o solo fica viciado para aquela cultura. Quando você usa a diversificação, ele fica equilibrado, de modo que não surgem doenças e pragas de solo e deficiência de nutrientes", afirma Didonetti.
 
Na área experimental foram plantadas nove variedades de feijão. Dessa forma o produtor pode analisar o desenvolvimento de cada um para escolher qual vai cultivar. Qualquer variedade pode ser utilizada, mas para o feijão agroecológico a aposta é nas variedades crioulas, aquelas que são puras, ou seja, que não sofreram alteração genética.
 
Para o produtor, uma das vantagens do feijão é a melhora na qualidade de vida, já que o agricultor não tem de lidar com veneno.
 
Fonte: G1, 11/03/2012.
 
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
 
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